Tudo o que vemos é feito do que não vemos
de Miriam Alves e Yara Kono
Planeta Tangerina
Na sociedade em que os humanos se movem tudo é percetível pela aparência e superficialidade. Porém, o mundo visível é apenas a superfície de uma teia muito mais complexa de elementos invisíveis. Essa noção está alinhada tanto com a filosofia quanto com a ciência moderna, que revela que tudo o que vemos é, em última instância, composto por partículas e forças que não podemos observar diretamente. A autora Miriam Alves dedicou-se a esclarecer o que existe dentro do que se vê, e a ilustradora Yara Kono, num trabalho detalhado e colorido, revela a complexidade estrutural oculta dos seres e das coisas. Neste livro maravilhosamente apelativo, descobrimos que há um mundo oculto dentro do mundo visível.
Até ao século XVII, quando o microscópio foi inventado, considerava-se que a pulga era o ser mais pequeno que se conhecia, mas ao longo dos últimos séculos, a descoberta de elementos invisíveis tem revolucionado a nossa compreensão da realidade com efeitos prodigiosos no avanço do progresso e evolução da humanidade.
Livros ilustrados, como As peças mais pequenas, de Miriam Alves e Yara Kono, têm um impacto significativo em públicos de diferentes idades, especialmente ao abordar temas sérios ou científicos de maneira acessível e visualmente envolvente. Este livro aborda questões ligadas à escala, ao microcosmo e à valorização do invisível ou do "pequeno" na natureza e na ciência. Para as crianças e jovens, isso pode abrir portas para um encantamento pelo invisível — o mundo microscópico, a ideia de que as menores partes da natureza têm uma função e importância. Para os adultos, o livro pode funcionar como um lembrete poético sobre a interconexão de todas as coisas, incentivando uma visão mais holística e reflexiva sobre o mundo. O trabalho visual de Yara Kono, com suas cores e formas cuidadosamente planeadas, amplifica a mensagem do texto de Miriam Alves, tornando-a acessível e impactante.
Para as crianças e jovens, as ilustrações têm um papel mais didático, servindo como ponte entre a linguagem científica e a sua capacidade de entendimento. Um livro como As peças mais pequenas pode ajudar os jovens a perceberem que até os menores elementos do mundo são importantes, estimulando o pensamento sistémico e a curiosidade científica desde cedo. Para os adultos, as imagens podem ser um atrativo, mas também têm o papel de sintetizar e facilitar a assimilação de ideias complexas, além de proporcionar uma experiência estética que enriquece a aprendizagem.
Ao longo da história, a humanidade foi descobrindo que o mundo que percebemos é apenas uma camada superficial de algo muito mais vasto e intrincado. Filosofia, ciência e arte entrelaçam-se nessa jornada para desvendar o invisível. Hoje, sabemos que há universos dentro de universos, dimensões que os nossos sentidos não conseguem captar diretamente, mas que influenciam tudo ao nosso redor. E é através de cientistas e artistas que conseguimos começar a vislumbrar o que há dentro do que vemos, o que é pequeno, cada vez mais pequeno, infinitamente pequeno.
O infinitamente pequeno encerra o segredo da vida porque é nele que o todo se revela. Uma única célula carrega o código de um ser inteiro. Um grão de pó carrega a memória das estrelas que explodiram há bilhões de anos. Um pensamento minúsculo pode mudar o curso da história. É no ínfimo que mora a origem de tudo. O pequeno não é apenas uma parte do grande, mas um reflexo dele. No menor dos gestos pode caber toda a grandeza do amor, e no silêncio de um momento pode existir toda a eternidade.
O infinitamente pequeno abraça o infinitamente grande porque é nele que o universo se esconde.
Rosa Maria Matias